quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Me perguntaram por que eu tinha tantos blogs. Eu respondi que cada espaço nos convida a ser alguma coisa. Eu fico me arranjando razões para escrever, que é o que eu mais gosto de fazer na vida, e que faço pouco, porque tenho contas a pagar e porque artista pobre é uma boa dramaturgia.

Eu sou um anticonsumista convicto. Acho que ninguém precisa de nada para ser feliz. Mas eu preciso entender a cabeça das pessoas que não pensam como eu, porque o preconceito aliena o artista.

Eu estou sempre pensando em boas histórias, mas tenho preferido não anotá-las para que eu possa viver achando que elas eram realmente boas. Ou porque talvez prefira não interromper o fluxo. Porque uma boa história não pode ser silenciada por notas. E as histórias todas vão para um grande baú inconsciente e se misturam do jeito certo, na hora certa.

Acho que toda descoberta da humanidade merece ser compartilhada e cada ato autêntico é uma descoberta para a humanidade. Vejo que aos poucos a imagem idealizada que cada um de nós cria nas redes sociais vai dando lugar a uma cultura de maior transparência e verdade, porque as pessoas estão se cansando de gastar energia administrando mentiras.

E quanto mais autênticas são as pessoas, mais interessantes elas ficam, porque se deslocam da visão massificada que temos de tudo.

Tenho descoberto personagens tão interessantes que duvido até que qualquer história com eles seja mais interessante do que a própria convivência.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Há muito tempo eu me interesso pelo humor. Acho que desde criança, ligadaço naqueles programas na TV superbem roteirizados. Eu nem sabia falar e já adorava o Ronald Golias fazendo "pé com pano", aquelas expressões que diziam tudo, sem dizer nada.
Um belo dia comecei a pensar: será que o humor é uma coisa só ou tem que necessariamente ser dividido em diversas experiências humanas, que nem sempre nos fazem rir.
Freud, que jamais foi visto rindo, dizia que o humor é "economia mental". Quando você deixa de contar toda uma história que liga dois pontos, para que as pessoas o façam da maneira delas. É uma sensação de prazer derivada do encantamento formado por uma imagem inusitada.
Certamente Freud pensou naquele humor intelectual, sofisticado, onde os pontos a serem ligados estão tão distantes que a corrente entre eles se dá como um raio. Mas existe também um humor onde esses pontos estão muito próximos. Onde a gente já sabe o que vai acontecer e acontece. É a criança que ri quando a gente se esconde e aparece, se esconde e aparece...ela já espera que vá aparecer, e aparece mesmo...
Eu tenho me interessado mais pelo humor minimal, que é aquele em que você diz o mínimo, para que a imaginação do interlocutor seja máxima. É a sutileza. A sugestão.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cada vez mais eu me convenço de que a verdade é um elemento essencial ao humor.  E verdade eu me refiro a das intenções. Um artista que é verdadeiro com suas intenções tem algum tipo de coerência que é capaz de mobilizar seu público. 

Essa correlação direta me veio com a leitura do The Truth of Comedy, de Charna Halpern, Del Close e Kim Johnson. Mas dese então tenho me encantado com os insights experimentados na exploração dessa correlação. 

O palhaço é tão mais engraçado quanto mais verdadeiro for. O comediante stand-up é tão mais engraçado quanto verdadeiro for. A verdade encanta pelo seu ineditismo. 

Quando alunos me pedem uma dica infalível para escrever humor, eu respondo sem titubear: "seja verdadeiro".  Primeiro ouça o que o seu coração diz, depois  alinhe-se a isso. Qualquer coisa verdadeira já tem um magnetismo natural. Despreocupado em acertar, cada um pode se sentir confortável para expressar suas mais hilariantes idiossincrasias. 

Momentos de intimidade entre amigos, que nos permitem expressar o máximo da nossa autenticidade, são pródigos em situações de humor impagáveis, todo mundo já experimentou isso. 

Quando mais verdadeiro eu sou, mais confortável me sinto para expressar a minha arte. E para me relacionar. A gente se desarma. Fica leve, capaz de dançar com as circunstâncias. 

domingo, 14 de julho de 2013

Todos nós temos sacadas o tempo todo e normalmente vivemos num dilema: paro pra anotar ou dou linha pra pipa, não interrompendo o momento para narrá-lo.
Foi aí que eu tive a ideia começar a usar a câmera para não destruir uma experiência, me forçando a fazer algo legal, porque a final estaria gravando.

A ideia é explorar um olhar sobre absolutamente qualquer coisa.

O palhaço é um apagador de incêndios. Ele não sabe o que vai fazer. Mas sabe que vai fazer.

O meu trabalho é resgatar esse olhar disponível, pra se deleitar com qualquer coisa. E o exercício é narrar. Fale sobre o que você vê. Qualquer coisa. A tampinha do ralo que está fora do lugar. Deixe-se socorrer pela sua imaginação. Limite-se a descrever o que vê.